Após secas, temperaturas acima de 30°C na fase reprodutiva afetam desenvolvimento fisiológico dos cafezais
Termômetro em alta: Nos últimos anos, calor excessivo tem sido o maior desafio da cafeicultura no Brasil
Por: Notícias Agrícolas
”Ao longo dos últimos 5 anos, a gente vem aprendendo sobre os efeitos da temperatura no desenvolvimento da planta de café. Mas, já são conhecidos alguns dados pela ciência que o café, a partir dos 32, 33º graus, a planta já não funciona tão bem como era esperado que funcionasse. O sistema, a fisiologia dela é afetada, tanto na parte de transpiração como na parte fotossintética, resultando assim em alguns efeitos que prejudicam o desenvolvimento dessa planta. Mesmo com irrigação, bom manejo, o calor excessivo tem sido o maior desafio para o cafeicultor, um dos pontos mais difíceis de corrigir na produção cafeeira”, alertou o engenheiro agrônomo e consultor em cafeicultura, Jonas Leme Ferraresso.
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) indicou que 2025 deve ser o segundo ou terceiro ano mais quente já registrado no planeta. Ao longo deste ano, o Brasil enfrentou, e vem enfrentando, múltiplas ondas de calor (inclusive fora das estações tipicamente quentes), e para agravar ainda mais o quadro climático, as chuvas seguiram/seguem irregulares.
O engenheiro agrônomo e pesquisador da Fundação PROCAFÉ, José Matiello, explica que embora um aumento de temperatura possa, em certa medida, prejudicar a planta, o maior impacto se manifesta através do estresse hídrico. “Com o aumento da temperatura, a planta intensifica suas atividades necessitando de maior quantidade de água, essencial para seu funcionamento. A irrigação surge como solução, atenuando e resolvendo o problema, desde que realizada de maneira adequada. Porém, a demanda por água, por vezes, não é suprida em quantidade suficiente. O período crítico por falta de água coincide com o início da formação dos frutos. Nesta fase a água é essencial para o transporte de nutrientes e reservas, translocados da folhagem para os frutos. Este processo depende do suprimento hídrico adequado, sendo crucial que a planta esteja bem hidratada”, explicou o agrônomo.
Diante deste cenário de constantes e fortes ondas de calor, falta de chuvas, as lavouras não estão mesmo respondendo corretamente aos manejos produtivos, conforme informou o produtor de café de Simonésia, Zona da Mata/ Minas Gerais, Mateus Oliveira. Ele conta que os cafezais estão demorando mais para assimilar os adubos devido as chuvas rápidas. “ Eu uso um poço semi artesiano desde 2014, mas somente pelo período de 1 mês por ano, normalmente no mês de setembro. Mas, com desde 2020 a seca vêm judiando, e com isso em 2024 eu já usei a bomba de julho até desembro, e esse ano estou usando a bomba do dia 10 de abril até agora, e continuo sem água no córrego. Nós estamos com déficit hídrico, as chuvas não reporam o que estava faltando, desde o ano passado”, lamentou o produtor.
Ferraresso pontua ainda que não se trata apenas do volume de chuva, mas também como ela é distribuída, e isso tem sido muito variável de regiões para regiões. ”O café precisa ir por volta de 100 mm de chuva ano, só que bem distribuídos. Mas, nas regiões que acompanho a média de novembro foi abaixo da média histórica de chuvas. Isso resultou em três floradas, na maioria das regiões, mas o que me surpreendeu mesmo é a qualidade do pegamento dos chumbinhos. Visito lavouras in loco e tenho percebido que as rosetas, que é onde o café fica preso, ele está muito falhado. Você tem guias novas, que são guias que tem maior potencial de florescimento e pegamento do que a parte mais velha do galho, né? No comprimento do galho, as guias mais novas que estavam prontas até o florescimento, elas têm uma capacidade maior de pegar flores. Mas, em vez de ter lá o número de 8 a 10, 12 até 14 frutos por por nó, você tem 3, 4, 5, 6. Alguns estão sem frutos, o que me surpreendeu bastante, porque são lavouras que aparentemente estão sadias, que tem um balanço de folha OK, sabe?”, contou ainda o engenheiro.
Essa depauperação é real e preocupante para a produtividade da próxima temporada. Mateus conta que tem em sua propriedade lavouras bonitas, cheias de café, mas em uma área de 50 metros de diferença já encontra outras que estão muito ruins (conforme fotos abaixo).
“No café a gente trabalha com antecipação de 2 anos. A safra de 2027 já está em risco porque as plantas não estão crescendo o suficiente. Mesmo pulverizando, mesmo adubando, agora algumas produtores já estão entrando na segunda adubação, as lavouras não estão respondendo como deveria estar para esse momento agora. Se não tem água não adianta nada”, reforçou o cafeicultor.
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