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Oferta apertada deve manter preço do café em alta com ou sem tarifaço dos EUA
Oferta apertada deve manter preço do café em alta com ou sem tarifaço dos EUA
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Oferta apertada deve manter preço do café em alta com ou sem tarifaço dos EUA

Bolsas internacionais reagiram com forte baixa à sinalização por autoridades americanas de uma redução nas taxas de importação do produto

Por Globo Rural 

A forte queda nos preços do café nas bolsas, na quarta-feira (12/11), está mais para um movimento de curto prazo do que para uma tendência. A avaliação é de Eduardo Carvalhaes. Ele afirma que os fundamentos não mudaram e, além do quadro apertado de oferta, o mercado continua lidando com a instabilidade climática em importantes regiões produtoras, como o Brasil e o Vietnã.

Nesta quarta, as cotações do café arábica despencaram na bolsa de Nova York. Os operadores reagiram a declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e do secretário do Tesouro, Scott Bessent, de que o governo avalia reduzir tarifas de importação. Os americanos são os maiores consumidores da bebida.

É uma reação ao Trump, porque o mercado imagina que o preço do café vai cair, mas o aperto na oferta permanece”, diz Carvalhaes. “A redução da tarifa não vai gerar mais café. O fundamento é que não tem café sobrando. Os estoques estão baixos em países produtores e consumidores, e o consumo, de uma forma geral, avança”, acrescenta.

Levantamento do Valor Data, com base no contrato de segunda posição em Nova York, apontou alta acumulada de 3,71% em outubro, o equivalente a 1330 pontos (ou US$ 0,1330). Em novembro, já considerando o fechamento da sessão de quarta-feira, a valorização é de 1,18%. Desde o início do ano, as cotações futuras na bolsa avançaram 19,63% e em 12 meses, 43,16%.

Trump e Bessent não citaram nenhum país, especificamente, mas há a expectativa de que o Brasil, maior exportador global, seja beneficiado pela medida. Os Estados Unidos são o principal destino do café brasileiro. A incidência da tarifa de importação, praticamente, inviabilizou os negócios, levando à queda nos embarques do produto.

Nesta quarta-feira, o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) informou que as exportações em outubro foram de 4,141 milhões de sacas de 60 quilos em outubro, 20% a menos que no mesmo mês em 2024. No acumulado de janeiro a outubro de 2025, a queda também é de 20% em relação a um ano atrás, com um volume total de 33,279 milhões de sacas.

 

Desde o início do tarifaço, em agosto, até outubro, as remessas para os Estados Unidos somaram 983,970 mil sacas de 60 quilos, 51,5% a menos do que no mesmo intervalo em 2024, quando foram 2,03 milhões de sacas. Em todo ano passado, os americanos compraram 24 milhões de sacas, 8,1 milhões de café brasileiro. É um mercado com uma movimentação em torno de US$ 2 bilhões.

Eduardo Carvalhaes explica que o principal efeito da tarifa foi desequilibrar o mercado global. Como o café brasileiro ficou mais caro, traders foram comprar de origens com preços mais competitivos. E quem comprava dessas origens ficou “deslocado” e redirecionou essa parte da demanda para o Brasil.

Mas a safra brasileira frustrou as expectativas do mercado e foi inferior à esperada, consequência de problemas climáticos em regiões produtoras. O preço subiu e os compradores, nas palavras do analista, foram “pegos no contrapé”.

“O mercado achava que a safra seria grande. Passou a comprar menos e a ‘queimar’ estoques. Frustrou a safra do Brasil e os preços não caíram. E o Brasil ficou com os mais baixos estoques dos últimos anos”, resume Carvalhaes.

Em outubro, o indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) para o café arábica, com base em São Paulo, acumulou alta de 3,72%. No dia 31, a referência foi de R$ 2,206 mil a saca de 60 quilos. Em novembro, até o dia 11, a valorização é de 3,98%, com a saca valendo R$ 2,294 mil.

E pelo menos até o momento, diz o analista, não há expectativa de mudança no quadro a ponto de inverter a tendência de preços. Não há indicativos de um crescimento ou até um novo recorde na produção. Do lado da demanda, ele pontua que o Hemisfério Norte está próximo do inverno, quando, historicamente, o consumo aumenta.

“A esperança dos compradores, de encontrar café mais barato, não deve se concretizar. Vamos ficar de novo sem estoque. Eu não sei qual vai ser a resultante dessas variáveis todas, mas quem achar que o problema de clima vai passar e o mercado vai voltar ao que era antes, pode estar enganado”, diz Carvalhaes.