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Recomposição dos estoques globais de café deve levar ao menos duas boas safras, dizem especialistas
Recomposição dos estoques globais de café deve levar ao menos duas boas safras, dizem especialistas
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Recomposição dos estoques globais de café deve levar ao menos duas boas safras, dizem especialistas

Após déficits sucessivos no balanço de oferta e demanda, em meio a um consumo que mostra resiliência apesar de preços historicamente elevados, disseram especialistas.

Via Notícias Agrícolas 

CAMPINAS (Reuters) - A recomposição dos estoques globais de café deve levar pelo menos duas boas safras, após déficits sucessivos no balanço de oferta e demanda, em meio a um consumo que mostra resiliência apesar de preços historicamente elevados, disseram especialistas durante o Coffee Dinner & Summit, nesta sexta-feira.

O cenário mostra os desafios globais do setor, que viu os preços dispararem para máximas históricas, e indica que mesmo uma grande safra esperada em 2026 para o Brasil, maior produtor e exportador global, pode não trazer alívio imediato para consumidores.

"Eu acho que a gente ainda está num momento que não é confortável. Eu não acredito em formação de estoque deste ano para o ano que vem. Acho que a gente precisaria de no mínimo umas duas safras boas", afirmou o superintendente comercial da cooperativa Cooxupé, Luiz Fernando dos Reis, à Reuters, no intervalo do evento promovido pelo Cecafé, em Campinas (SP).

O executivo da maior cooperativa de cafeicultores do mundo lembrou que, mesmo que o Brasil produza uma grande safra no ano que vem (2026/27), a seguinte não deve ser tão boa, já que as lavouras de arábica, que dominam a cultura no Brasil, oscilam entre anos de alta e baixa produtividade.

"Então acho que uma formação de estoques vai demorar mais tempo... acho que não vamos conseguir recompor esses estoques no ano que vem", disse ele.

Reis destacou ainda que o Brasil deve enfrentar um "aperto" na oferta no começo do ano que vem, até a chegada da safra 2026/27, "como nós tivemos neste ano". As cotações atingiram máximas históricas de mais de US$4/libra-peso em fevereiro na bolsa de Nova York.

Com uma queda recente nos preços em relação às máximas, o produtor "tende até a segurar um pouquinho mais" as vendas, enquanto pode trazer paralelamente algum impulso ao consumo, concordou o superintendente.

Atualmente, o valor na bolsa ICE está um pouco abaixo de US$3/libra-peso.

"Ainda está num preço bom, se a gente comparar, não é o que teve, mas ainda é um preço bom. O produtor está colhendo, vendendo uma parte, mas se cair mais...", acrescentou.

CONSENSO

O diretor de pesquisa de café da Louis Dreyfus Company, Charles Chiapolino, disse durante a apresentação que após anos de déficits não vai ser fácil recompor estoques no mundo.

"Para recompor os estoques que tínhamos quatro anos atrás, vai levar pelo menos dois anos de safras muito boas, com tudo positivo, e sabemos das dificuldades de o clima ficar alinhado em todo o mundo dois anos seguidos, é quase impossível", afirmou Chiapolino.

O CEO da Federação dos Cafeicultores da Colômbia, Germán Bahamón, concorda, lembrando que os estoques caíram na origem e nos destinos, nos últimos anos, com o consumo forte.

"Neste momento, ninguém consegue construir estoques com a demanda estável e crescendo em alguns países... difícil ver os estoques crescendo como estávamos acostumados anteriormente", afirmou.

O presidente da Divisão da América Latina da StoneX Financial, Oscar Schaps, disse que a estrutura do mercado invertido, na qual os preços de vencimentos mais próximos estão mais altos do que os contratos mais distantes, não ajuda na formação de estoques.

"A bolsa tem que mostrar incremento de estoques para acabar com o backwardation (mercado invertido)", disse.

Ele disse esperar que a safra de 2026 do Brasil ajude a melhorar o nível de estoques.

(Por Roberto Samora)