
Preços do café em abril voltaram a refletir apreensão com safra brasileira
Nos fundamentos, portanto, como aspecto de sustentação persiste o foco em uma safra brasileira de 2025 prejudicada, em um cenário que já é de oferta mais limitada. Por outro lado, o começo da colheita da safra brasileira pesa sobre as cotações no Brasil e limitou impactos positivos das bolsas.
Por Revista Cafeicultura
Postado em 05/05/2025
O mercado internacional de café voltou a refletir em abril as preocupações com a oferta global, com preços avançando na Bolsa de Nova York. As apreensões seguiram em torno do aperto nos estoques e com a safra brasileira de café 2025, duramente afetada pelo clima seco e por altas temperaturas em 2024, mas também com condições complicadas em muitos momentos no primeiro trimestre de 2025, e isso centrado no arábica.
Nos fundamentos, portanto, como aspecto de sustentação persiste o foco em uma safra brasileira de 2025 prejudicada, em um cenário que já é de oferta mais limitada. Por outro lado, o começo da colheita da safra brasileira pesa sobre as cotações no Brasil e limitou impactos positivos das bolsas.
Ao final de abril, o café emendou uma sequência de altas, alterando seu comportamento e mudando de status ao voltar a ser negociado acima dos 400 centavos de dólar por libra-peso na bolsa de Nova York, como destaca o consultor de Safras & Mercado, Gil Barabach. “O primeiro gatilho foi a melhora no humor dos investidores globais, após o pessimismo generalizado com o ‘tarifaço’ de Trump. A trégua nas tarifas, anunciada pelo governo norte-americano, e os sinais de flexibilização, que sugerem um possível acordo entre China e Estados Unidos, trouxeram mais otimismo aos mercados e resultaram em uma forte valorização dos ativos. O café pegou carona nesse movimento, que serviu como impulso inicial para a alta”, ressaltou.
Paralelamente, observa Barabach, o dólar perdeu valor frente a outras moedas. O índice DXY caiu abaixo da linha dos 100 pontos, enquanto o peso colombiano recuou para perto de 4.200 COP e o real brasileiro voltou à casa dos R$ 5,00, após picos de valorização do dólar. Como as commodities são cotadas em dólar, normalmente mantêm uma relação inversa com a cotação da moeda norte-americana. Assim, a queda do dólar serviu de suporte aos preços das commodities, favorecendo a recuperação dos ativos básicos — entre eles, o café, salienta o consultor.
No câmbio, a desvalorização do dólar frente ao real tem um impacto ainda mais significativo sobre o preço do café no mercado internacional. “O Brasil, maior exportador mundial da commodity e responsável por mais de um terço do fluxo global, está na boca da safra. Com o dólar mais fraco, o interesse em vender diminui, pois o produtor brasileiro recebe menos reais por cada dólar exportado. Isso acaba estimulando uma compensação nos preços na bolsa, ajudando na valorização do café em NY”, indica.
Além da questão cambial e da melhora no humor dos investidores, o rali nos preços do café também foi estimulado por fatores técnicos. “O mercado foi superando resistências e ganhando fôlego de alta, rompendo o canal de baixa iniciado em fevereiro, além de ultrapassar o topo de alta em 416 centavos para atingir máxima próximo de 419 centavos de dólar por libra-peso. A sustentação da linha dos 400 centavos em NY dá fôlego ao movimento de alta. No entanto, a perda dessa referência pode estimular novas ordens de venda, fazendo o mercado retornar ao antigo canal de baixa”, adverte.
Para Barabach, os ganhos do arábica no terminal de Nova York vêm se sustentando na melhora do ambiente financeiro, no dólar fraco e em um cenário técnico mais favorável. “Há, no entanto, suporte fundamental para essa alta. É verdade que a limitada disponibilidade física de café no mercado global serve como fator de sustentação, mas essa situação de aperto já vem sendo precificada há bastante tempo”, comenta.
Outro sinal importante vem dos fundos, que têm reduzido sua posição líquida comprada com café na bolsa de Nova York, adverte Barabach. O último relatório do CFTC (Commodity Futures Trading Commission) mostrou que, ao final do pregão de 22 de abril, os fundos detinham uma posição líquida comprada de 41 mil contratos futuros de café arábica, um leve aumento em relação aos quase 40 mil da semana anterior, mas bem abaixo dos 76 mil contratos registrados no fim de janeiro. “Essa redução reflete incertezas no ambiente financeiro, causada pela guerra de tarifas, e a expectativa de algum alívio na oferta com a chegada da safra nova brasileira. Ainda assim, ao menos até o fim do inverno no Brasil ou mesmo até o início das floradas da safra 2025 brasileira, é provável que os fundos mantenham uma posição comprada, apoiada na baixa oferta e nos riscos climáticos — como eventuais geadas”, coloca.
Já o robusta, negociado em Londres, não acompanha os ganhos do arábica em Nova York. Par ele, o avanço, ainda que tímido, da colheita de conilon/robusta no Brasil e o início da safra principal na Indonésia ajudam a aliviar a pressão sobre o abastecimento global. “Além disso, o cenário climático no Vietnã — principal produtor de robusta — é mais positivo neste momento, com previsão de boas chuvas nas próximas semanas, o que favorece as floradas e o desenvolvimento da próxima safra, o que reforça a perspectiva de uma safra 20 25/26 maior que na temporada atual”, indica. Com isso, a arbitragem NY/Londres voltou a se alargar girando em torno de 157 centavos. “Isso significa que o arábica atualmente está 157 centavos mais caro que o robusta”, conclui.
No balanço de abril, na Bolsa de NY, o contrato julho do café arábica acumulou alta de 6,75%. O robusta em Londres acumulou alta de 1,4%.
No mercado físico brasileiro de café, o café arábica bebida boa no sul de Minas Gerais fechou abril a R$ 2.650,00 a saca na base de compra, com alta de 3,1% no comparativo com o fim de março. Já o conilon, tipo 7, em Vitória/Espírito Santo, fechou abril a R$ 1.715,00 a saca, com perda no balanço mensal de 12,5%, refletindo a entrada já da safra brasileira.
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